Por: Jorge Fonseca de Almeida
Economista Conselheiro nº1083
O lugar de um país no concerto das nações mede-se pelo seu grau de desenvolvimento, pela sua cultura, pelos contributos efetivos que faz para o progresso da ciência, da tecnologia, dos valores humanos da igualdade e da liberdade, ou por outro lado pelo poderio militar. Este lugar não é estático, antes dinâmico e competitivo. E se uns sobem, quando se trata de uma escala, de uma hierarquia, outros forçosamente descem.
Nos últimos meses a publicação de um conjunto de estudos, indicadores e a prestação portuguesa em vários fora veio revelar a atual posição de Portugal na cena internacional. Infelizmente não recebemos boas notícias mas a confirmação de uma de decadência prolongada.
O grau de desenvolvimento de uma sociedade, de um território, de um país pode medir-se de diversas maneiras. O desenvolvimento económico pode condensar-se no Produto Interno Bruto (PIB) ou no Rendimento Interno Bruto (RIB), mas nem sempre a riqueza material flui para todos os habitantes ou é rigorosamente gasta dificultando a comparação. Ainda a diferença do volume populacional e as diferenças cambiais e de sistemas de preços dificultam a comparação. Surgem, assim, os indicadores por cabeça (per capita) e em paridade de poder de compra (PPP) que procuram superar essas dificuldades. Emergem os indicadores compósitos que visam agregar num só índice aspetos como a riqueza material, a desigualdade, a educação e as perspetivas de longa vida que refletem o estado da saúde. O indicador compósito mais usado é o Índice de Desenvolvimento Humano criado no âmbito das Nação Unidas e publicado no Relatório de Desenvolvimento Humano.
Vejamos, então, como Portugal tem evoluído nas últimas décadas. Desde logo a posição na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano em que Portugal caiu da 28ª posição em que se encontrava no Relatório de 2000 para a 42ª posição no Relatório de 2024. Todos os países que estavam à nossa frente em 2000 continuam à nossa frente, mas um conjunto de outros, nomeadamente da Europa de Leste, da Ásia e do Médio Oriente ultrapassaram-nos. Em breve um novo conjunto de nações, que estão já muito próximos, prepara-se para nos ultrapassar. Eles em progresso ascendente, nós em evolução descendente.
Em termos de simples riqueza material a nossa posição também evoluiu negativamente. Na classificação do Fundo Monetário Internacional do PIB per capita em Paridade de Poder de Compra surgimos agora em 52º lugar, e na mesma classificação apresentada pelo Banco Mundial ficamos em 46º lugar. Há 20 anos a nossa posição rondava pelo 39º no ranking do FMI. Também aqui Portugal perdeu mais de 10 posições nas últimas duas décadas. E prepara-se para perder mais porque a Roménia, Porto Rico, Hungria, Croácia, Eslováquia e Omã se têm aproximado e a continuar a nossa estagnação vão-nos ultrapassar nos próximos anos. Eles em progresso ascendente, nós em evolução descendente.
Em termos de poderio militar sabemos que Portugal não é potência militar de relevo e que em termos de tamanho das suas forças armadas, de acordo com o Institute for Strategic Studies, nos situamos em 47º lugar a nível mundial.
Naturalmente que em termos de ciência e cultura o nosso contributo é ínfimo e se olharmos para as grandes descobertas científicas e tecnológicas do nosso século não encontramos contributo português. A Humanidade dirige-se para o espaço, vai habitá-lo no tempo das gerações vivas mais jovens, para o oceano, que vai explorar em extensão, para o infinitamente pequeno, que vai permitir criar novos materiais, para a informatização e a robotização, que vão libertar o ser humano de muito esforço físico e mental. Em nenhuma dessas áreas encontramos portugueses na vanguarda e, muitas vezes, nem na retaguarda. As patentes, os Prémios Nobel, as empresas de tecnologia de ponta aí (não) estão para o provar.
Na cultura pouco ou nada temos a oferecer à Humanidade. Nem um pintor, um escritor, um compositor, um cantor lírico ou popular, um ator, um escultor, um filósofo, um matemático, das gerações vivas se destaca, e por mérito ganha notoriedade. Apenas no futebol Ronaldo alcançou merecido êxito mundial.
No futebol mas não no Desporto. Nos Jogos Olímpicos de Paris conseguimos, com grande alegria e satisfação global de todos os quadrantes, o 50º lugar! Nos Jogos Paralímpicos fizemos melhor atingindo o 43º lugar. Nada que possa orgulhar.
Durante uns tempos as elites orgulharam-se do nosso Sistema Nacional de Saúde que se classificou em 12º lugar a nível mundial. Também aqui o declínio é brutal. No ranking publicado pela Statista Portugal surge em 40º a par com a Grécia (41º), a Malásia (42º) e até o Vietname (44º). No ranking da OCDE, que incide apenas sobre 45 países, sobre o tempo de sobrevivência dos doentes com diversas doenças. Portugal situa-se genericamente entre o 23º e o 26º lugar (consideramos só as classificações abrangendo 45 países). Estes resultados são consistentes com uma posição entre 40º e 50º se fossem considerados todos os países (a Ásia e a América Latina não estão incluídos neste estudo).
Hoje, como constatamos nos diversos rankings, o nosso lugar no mundo, variando ligeiramente com os indicadores, situa-se entre a 42ª e a 55ª posição no cômputo mundial. Um trambolhão desde que Portugal insensatamente aderiu à moeda única franco-alemã.
É o lugar que merecemos? É o melhor que conseguimos? É aquilo que sensata e realisticamente está ao nosso alcance? Por mim respondo que não, que muito melhor está ao nosso alcance, embora não com as atuais políticas e elites ou classes dominantes, para evocar um conceito marxista que continua a fazer muito sentido.
Esta queda rumo à insignificância é saudada pelas nossas elites políticas e económicas como o seu grande feito, uma vitória digna das maiores loas e elogios enquanto as vozes descontentes são suprimidas com maus modos. Ai de quem se afaste do otimismo destruidor da comunicação dominante, ai de quem ouse gritar que o “Rei vai nu”, ai de quem se preocupe com este torrão costeiro a que por séculos se chamou Portugal e que não queremos se passe a chamar União Europeia.