Por: Carlos Carona
Membro Sénior nº7649
A população residente e o emprego gerado são as variáveis económicas críticas, para o Alentejo (Região NUT II) enfrentar com sucesso o desafio do desenvolvimento económico e social. Efetivamente, as variações na população residente resultam da soma algébrica do saldo natural com saldo migratório, num determinado período. O primeiro calcula-se pela diferença entre a natalidade e mortalidade, sendo fortemente influenciado pelo envelhecimento da população, tendo os censos de 2021 registado 219 idosos por cada 100 jovens. Numa população mais envelhecida a fecundidade tende a ser menor, enquanto a mortalidade inevitavelmente tende a ser maior. O segundo calcula-se pela diferença, entre as famílias que vieram residir no território e as famílias que deixaram o território, para morar no exterior. Entre outros fatores, as decisões afluir a um território migrando ou deixá-lo emigrando, são fortemente influenciadas pelas oportunidades económicas, nomeadamente o emprego gerado e as remunerações obtidas.
Como o maior contributo para o rendimento disponível nas famílias provem dos salários, excluindo pensões corresponde a 37,8% do PIB em 2021, a geração de emprego é uma variável determinante na variação da população, favorecendo as condições para os casais jovens terem mais filhos, assim como impactando fortemente um saldo migratório positivo, através da atração de novos residentes para o território.
Os territórios sub-regionais não registam a mesma dinâmica de evolução na população residente, nem na geração de emprego. Neste artigo, propomos analisar nos dois principais concelhos em cada uma das NUT III, a evolução da população residente e do emprego gerado no período de 2011 a 2021, captando as diferentes dinâmicas face à tendência de fundo, que é a evolução das mesmas variáveis no Alentejo (Região NUT II) como um todo, contribuindo para melhorar a nossa percepção das diferentes realidades sub-regionais.
A metodologia de trabalho consiste na utilização de números índices, para evidenciar o desempenho na variação na população residente e no emprego gerado, nos concelhos analisados, face aos valores de referência, designadamente, o desempenho das mesmas variáveis no Alentejo, no qual assumimos a base 100.
Entre os censos de 2011 e 2021, a população residente no Alentejo diminui em 52 769 habitantes, passando de 757 302 para 704 533 habitante, correspondendo a uma taxa de crescimento negativa de 7%. Quanto ao emprego, no mês período os postos de trabalho existentes diminuíram em 6 422 vagas, passando de 298 691 para 292 269 empregos, correspondendo a uma taxa de crescimento negativa de 2,2%.
Concelhos/Território | Taxa Cresc. População | Índice População | Taxa Cresc. Emprego | Índice Emprego |
Alentejo | -7,0 | 100 | -2,2 | 100 |
Évora | -5,3 | 76 | -2,4 | 112 |
Montemor-o-Novo | -9,4 | 135 | -6,9 | 320 |
Beja | -6,9 | 98 | -2,5 | 117 |
Serpa | -11,9 | 171 | -2,5 | 118 |
Odemira | 13,3 | -191 | 44,2 | -2056 |
Santiago do Cácem | -6,6 | 95 | -10,3 | 478 |
Portalegre | -10,4 | 149 | -6 | 279 |
Elvas | -10,2 | 146 | -2,9 | 134 |
Santarém | -5,7 | 82 | -3,6 | 166 |
Benavente | 155 | -2230 | 3,9 | -180 |
Cálculos do autor: Fonte INE Censos de 2011 e 2021 Unidade: %
O crescimento negativo tanto da população residente -7% como no emprego gerado no Alentejo -2,2%, constitui o nosso cenário de referência, importa referir, que sempre que o índice é superior à origem (100) o efeito negativo do decrescimento é acentuado. Ao cruzarmos as duas variáveis num gráfico cartesiano, colocando a população nas abcissas e o emprego nas ordenadas, vamos posicionar os concelhos em cada um dos quatro possíveis quadrantes, firmando a origem dos eixos no índice 100:
Dispersão das dinâmicas sub-regionais População/Emprego
1.º quadrante – pior desempenho na atração de população e pior na geração de emprego, constatamos que se posicionam neste quadrante 4 concelhos, a capital do distrito Portalegre, as segundas cidades mais populosas no Norte Alentejano, Alentejo Central e Baixo Alentejo, Elvas, Montemor-o-Novo e Serpa, respetivamente; 2.º quadrante – melhor desempenho na atração de população e pior na geração de emprego, constatamos que se posicionam neste quadrante 4 concelhos, as capitais de distrito Beja no Baixo Alentejo, Évora no Alentejo Central, Santarém na Lezíria do Tejo, assim como Santiago do Cacém no Litoral Alentejano, nos concelhos de Évora e Beja apesar de pior, o desempenho na geração de emprego não está muito distante do desempenho do Alentejo, distancia que vai, se acentuando quando vemos o índice de Santarém 166 e Santiago do Cacém 478; 3.º quadrante – melhor desempenho na atração da população e melhor na geração de emprego, constatamos que se posicionam neste quadrante 2 concelhos, Benavente na Lezíria do Tejo e Odemira no Alentejo Litoral, ambos reverteram a tendência de decréscimo e registaram taxas de crescimento positivas, no concelho de Benavente registamos a impressionante taxa de crescimento da população de 155%, registando uma bem mais modesta mas ainda assim positiva taxa de crescimento do emprego de 3,9%, no concelho de Odemira aconteceu o inverso, a taxa de crescimento do emprego foi superior registando 44,2% enquanto a taxa de crescimento da população foi 11,9%; 4.º quadrante – pior desempenho na atração de população e melhor na geração de emprego, não encontramos qualquer concelho posicionado neste quadrante.
Nos concelhos onde verificamos dinâmicas positivas na atração de residentes, importa conhecer as caraterísticas dos novos residentes, destacamos alguns aspetos: a percentagem de jovens adultos (dos 18 aos 24 anos); a estrutura familiar, famílias ou pessoas singulares, nas famílias se têm crianças; o nível de educação formal; as competências ao nível de formação e exercício de profissões.
Nos concelhos onde verificamos dinâmicas positivas na geração de emprego, importa conhecer alguns aspetos: as atividades económicas onde surgiram novas vagas; se foi na indústria, a intensidade tecnológica, baixa, média, elevada; se foi nos serviços de alojamento, restauração e similares, na educação, saúde, no comércio a retalho e logística; se foi na agricultura, floresta ou pescas. O conhecimento nas diferentes dinâmicas no crescimento da população e emprego, assim como melhorar os cenários prospetivos ao nível dos territórios sub-regionais, visam possibilitar a diferenciação das politicas públicas, permitindo ajustar os serviços de interesse geral e os equipamentos ao território, para responder às procuras também elas diferenciadas, contribuindo todos de forma concertada na prossecução de uma estratégia, que permita ao Alentejo (região NUT II) enfrentar com sucesso os desafios económicos e sociais.
Uma resposta
A desindustrialização do Alentejo é a principal razão para a constatação tão bem expressa pelo autor da análise.
Numa economia de mercado, submetida a fortes condicionamentos sendo o da falta de recursos humanos com competências comprovadas, pesem as falsas esperanças de ser o Turismo a nova base económica do Alentejo, as políticas têm de ser outras. Geometricamente de sentido inverso.