Valorização salarial dos portugueses

Por: André Marques Vaz

Membro Efetivo nº 16044

A 15 de fevereiro de 2024, o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) deu-nos a conhecer um conjunto de números sobre os salários dos portugueses. Verifica-se que entre 2015 e 2023, existem mais 1,032 milhões de pessoas empregadas em Portugal e que a remuneração bruta mensal atingiu os 1 505 euros (mais 27,7% face a 2015) (Quadro).

Quadro: Número de trabalhadores e remuneração bruta mensal média por trabalhador (total, regular e base)

Fonte: INE

Apesar do INE ter registado a maior remuneração bruta mensal alguma vez conseguida no mercado de trabalho português, continuamos enquanto país a ter 11,3% da população empregada em risco de pobreza ou de exclusão social. Algo que não devíamos permitir enquanto cidadãos.

O mercado de trabalho evoluiu muito nos últimos 50 anos. Começou por ser constituído por pessoas com muito poucas ou nenhumas qualificações, garantindo um salário de subsistência e trabalhando com um “grande amor à camisola” pela necessidade que os tempos impunham.

Evoluímos para uma economia maioritariamente de serviços, resultante da facilidade na movimentação de pessoas, bens e capitais, gerando setores de capital intensivo e por consequência, gerou a necessidade de os trabalhadores procurarem por melhores e mais qualificações. O que foi acontecendo paulatinamente ao longo das últimas décadas.

Atualmente, mercado laboral nacional está num processo de revolução silencioso e os números estão a começar a demonstrá-lo. A economia portuguesa teve um processo de crescimento económico sustentado na última década (crescendo em 9 dos últimos 10 anos) e atingiu um nível de escolaridade muito semelhante à União Europeia (em 2022 31,5% da população acima dos 25 anos tinha o ensino superior versus os 34,3% da União Europeia a 27[1]).

Os trabalhadores portugueses são hoje mais escolarizados e por sua vez mais exigentes. Não aceitam a ideia do emprego para a vida, não aceitam o comodismo nem a desvalorização permanente pela gratidão por um emprego. Atualmente os trabalhadores portugueses, sejam mais novos ou mais velhos, passaram por algum processo de valorização pessoal através da educação que lhes garantem as condições para ambicionar mais.

Ambicionamos a ser valorizados com a dignidade que merecemos e acima de tudo, ambicionamos a ser valorizados tendo em conta o investimento em autovalorização (educação) que fomos fazendo ao longo da vida.

O Estado e os empresários portugueses têm de ter a capacidade de valorizar monetariamente a experiência, as habilitações literárias e a educação ao longo da vida, porque é a melhor forma de criar valor às empresas e por consequência, à economia. A evolução tecnológica e a criação de produtos ou serviços com a incorporação de cada vez mais valor, tem de existir a possibilidade de ser numa maior ou melhor maneira repartido por quem trabalha.

Temos, enquanto cidadãos de deixar de olhar para os impostos sobre o trabalho como o maior problema à nossa valorização. Os impostos incidem sobre uma base, que para nós portugueses é pequena quando comparada com a Europa.

Olhando para os relatórios e contas de 11 cotadas no PSI[2], verificamos que foram distribuídos mais de 2,3 mil milhões de euros em dividendos no ano de 2023, onde uma grande percentagem é enviada para o exterior. As mesmas 11 cotadas representavam, em 2022, cerca de 267 mil trabalhadores em Portugal e no exterior. Significa que, os mesmos dividendos repartidos na totalidade pelos trabalhadores representavam um aumento salarial de 626 euros por mês (14 vezes num ano).

Não existe nenhum dogma na necessidade de remuneração do capital investido pelos acionistas das empresas, o que precisamos enquanto país é que as empresas e os nossos empresários também direcionem os esforços na valorização das pessoas que criam valor nas empresas, os trabalhadores. Precisamos de empresários mais qualificados e mais sensíveis para as questões laborais, com a ambição de tornarem Portugal numa economia maior, mais próspera e mais produtiva.

Ao mesmo tempo que o Estado tem de fazer o seu papel. Os trabalhadores públicos que se valorizam através de uma licenciatura ou um mestrado na área onde atuam devem ser monetariamente reconhecidos na carreira ou a realização de um período experimental com sucesso deveria ser monetariamente valorizado.

Todos, seja o Estado sejam os empresários, podem fazer mais para que sejamos mais produtivos, mas e acima de tudo, mais felizes enquanto pessoas e enquanto povo.

[1] https://www.pordata.pt/europa/populacao+com+o+ensino+superior+(isced+5+8)+em+percentagem+da+populacao+entre+os+25+e+os+64+anos+total+e+por+grupo+etario-3239

[2] Portuguese Stock Index – Euronext Lisbon

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Skip to content