Tarifas e Balança Comercial

Por: Jorge Fonseca de Almeida

Membro Conselheiro nº1083

Da última vez que Portugal entrou em deficit (orçamental e de balança comercial) e a dívida (pública e privada) atingiu níveis estratosféricos a Troika aterrou em Lisboa e impôs a sua lei. A receita passada consistiu na eliminação do deficit orçamental através da redução de despesa e investimento públicos e eliminação do deficit externo através do aumento das exportações e da diminuição das importações. Com isso esperava-se uma redução da dívida. É a célebre desvalorização interna que passados mais de dez anos ainda nos impede de crescer, manteve o modelo de mão-de-obra barata e transformou a nossa economia dependente do turismo.

Esta receita significou uma redução drástica do poder de compra e do nível de vida dos portugueses. Como nos lembramos significou também um aumento brutal da emigração e, consequentemente, da imigração.

Confrontado com os mesmos problemas estruturais Trump tenta resolver o problema com uma receita diferente e que melhor salvaguarde os americanos. No centro da sua solução estão as tarifas.

Ao contrário da Troika que nos impôs o empobrecimento, em vez de redução de consumo Trump pretende substituir importações por produção interna. Com as tarifas as importações ficarão mais caras e difíceis estimulando e protegendo a produção interna. Em vez de aumento de impostos o Estado angaria receitas através dos direitos aduaneiros – que os importadores americanos estão a negociar que sejam, pelo menos, parcialmente suportados pelos exportadores através da redução das margens destes últimos. Ou seja de direitos aduaneiros com pequeno impacto em termos de inflação na economia americana e parcial ou totalmente pagos pelos países exportadores. Uma espécie de imposto sobre todos os países que vendem mercadorias para os Estados Unidos.

A política de impor tarifas / retirar tarifas parece a mais acertada para este fim. Cria uma incerteza que joga a favor da substituição das importações sem ter de verdadeiramente impor direitos aduaneiros elevados. Por outro lado abre a porta a negociações bilaterais que levarão, como aconteceu com o Japão nos anos 90, os parceiros comerciais a concordar com restrições voluntárias a troco de algum acesso e estabilidade ao mercado americano.

Naturalmente que o deficit orçamental só pode ser reduzido com cortes nas despesas e aumento nas receitas. Não pretendendo diminuir os gastos militares os cortes centram-se nas áreas sociais e no funcionalismo público. Elon Musk e o DOGE entraram a matar e em poucos meses dezenas de milhares de trabalhadores do Estado foram despedidos e milhares de milhões em programas sociais, incluindo a saúde, a educação, a ajuda externa, eliminados.

Estas dezenas de milhares de pessoas ficam livres para servir de mão-de-obra para a re-industrialização.

Quanto ao aumento de receitas, em vez do colossal aumento de imposto de Vitor Gaspar, um colossal aumento de tarifas a pagar pelo Mundo exterior.

Vê-se que o Plano de Trump pretende atingir três objetivos: 1) a re-industrialização dos Estados Unidos; 2) a defesa do dólar como moeda dominante nas relações comerciais mundiais; 3) reorganização das alianças e blocos mundiais e com isso reequilibrar / eliminar o deficit orçamental e o deficit comercial.

Este plano têm vários riscos: 1) incapacidade das empresas americanas de levar a cabo uma re-industrialização eficiente (essas dificuldades estão já a revelar-se em áreas como a Inteligência Artificial, os chips, os automóveis, entre muitas outras); 2) a emergência de outras moedas, como o Euro, que ameaçam o dólar; 3) a capacidade dos países asiáticos, latino-americanos e outros se coordenarem e criarem um bloco de comércio regulado (eventualmente no quadro da OMC).

Ainda é certo para saber se Trump vai conseguir os seus objetivos. Se o fizer salvaguarda o poderio americano por mais umas décadas, se falhar acelera a decadência económica do seu país.

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