
Por: René Cordeiro
Membro Efetivo nº56
Afirma o discurso corrente, com grande convicção e satisfação, que o mercado, os negócios, a vida, correm a uma velocidade vertiginosa. Consequentemente, de acordo com aquela convicção, e satisfação, pensar torna-se desnecessário por a velocidade o não permitir. O que está de acordo com, e reforça, a formulação do “sistema 1” de Kahneman: a tendência humana de responder às situações com que nos defrontamos com a “inteligência imediata” (em modo ‘automático’) que é fácil e instintivamente accionada, que nos conduz a respostas prontas, livrando-nos do esforço, da disciplina e do método que a “inteligência mediata” (em modo ‘manual’) requer e que consubstancia o “sistema 2”. Em resumo: não há tempo, não podendo haver lugar a método para pensar. Valha-nos, pois, a inteligência artificial!
Assim, os negócios ocorrem por impulso intuitivo, por vislumbre de um especial talento, por especulação, por sorte, por vontade sem entendimento que, como dizia o Bispo de Silves a Dom Sebastião, a vontade só por si, sem obediência do entendimento, é desconserto. Aparentemente, tal não é relevante numa sociedade que vive o imediato, hedonisticamente, podendo até estes “critérios” serem considerados adequados em sociedades liberais em que o que importa é o liberal livre estabelecimento e as facilidades decorrentes das promessas faustianas dos anúncios que nos invadem…Estes critérios ajustam-se àquela prática de curto prazo, possivelmente adequados a uma economia de sobrevivência. Creio que as regras que se aplicam ao funcionamento do modelo Uber constituem bom exemplo ao identificarem cinco tipos de veículos e de motoristas em que um, o Uber X, se aplica a veículos mais populares, com tarifas mais baixas, identificando detalhes sobre o género dos motoristas dos quais, por informação que circula, muitos não sabem falar português!
Todavia, uma questão se me levanta: em ambiente concorrencial, particularmente de economia pull que necessita vitalmente daquele tipo de anúncios, existe um conceito, um princípio, designado por enfraquecimento competitivo resumidamente caracterizado por taxas de (re)Investimento insuficientes para as necessidades de desenvolvimento dos negócios e, por taxas de crescimento insuficientes para assegurar retornos económicos necessários à remuneração dos factores, ambas de particular interesse das partes interessadas. Ora, sendo as decisões mais determinantes na vida das empresas, de qualquer organização, as que respondem a duas questões ― “que recursos afectar?”, “que oportunidades explorar?” ― fico desconfortável perante a situação acima descrita por me parecer que os seus critérios não poderão presidir às decisões determinantes referidas e, assim, promover o desenvolvimento económico do nosso país.
Entretanto, tomo conhecimento pelo Education at a Glance 2025 da OCDE que 46 % dos portugueses com idades entre os 25 e 64 anos têm muita dificuldade em interpretar textos e só conseguem ler, compreender, os de curta extensão e contendo informação recreativa (distracting information, no original). Isto é, cerca de 5 portugueses em 10, da geração mais bem preparada de sempre, de acordo com o discurso corrente, apresentam esta dificuldade.
Valha-nos, pois, a inteligência artificial! Que resulta de programação. E, esta, quem a faz?