O significado do Prémio Nobel em Economia

Por: António Mendonça

Bastonário

A atribuição recente do Nobel em Economia a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, não pode deixar de ser associada à atribuição do mesmo galardão, o ano passado a Daron Acemoglu, Simon Johnson e James Robin son. A referência comum é o crescimento endógeno.

Em 2024, a Academia de Ciências justificou a distinção com base no contributo dado por estes investigadores para a compreensão de como o desenvolvimento e as características das instituições afetam a prosperidade e a desigualdade económica entre países.

Este ano, destacou a explicação dada pelos três novos laureados para o papel da inovação no progresso económico das sociedades. Em particular, como os avanços tecnológicos impulsionam o desenvolvimento de novos produtos e métodos de produção, que substituem os antigos num ciclo contínuo, produzindo as bases de um crescimento sustentável que resulta em melhores padrões de vida e níveis de rendimento mais elevados.

Os contributos reconhecidos de Mokyr, situam-se, essencialmente, no plano da História Económica e na investigação das razões históricas da transformação do crescimento sustentado num novo normal, após séculos em que a estagnação era a norma.

Destaca-se, em particular, o processo autogenerativo de inovação sistemática e a abertura da sociedade a novas ideias e à mudança. Aghion e Howitt, são reconhecidos pelos seus contributos para a modelização da chamada “destruição criativa” – o processo através do qual os novos produtos e os novos métodos produtivos, geram uma dinâmica, na economia, de substituição das empresas tecnologicamente obsoletas por outras tecnologicamente mais evoluídas e inovadoras, conferindo sustentabilidade ao crescimento.

Uma ideia que remonta ao início do séc. XX, com Kondratiev e a sua teoria dos ciclos longos originados pelas mudanças tecnológicas, e que se torna referência com Schumpeter, seu contemporâneo e amigo na Econometric Society, através do “empresário empreendedor” e do papel da inovação na transformação estrutural da economia.

Estas ideias nunca deixaram de estar presentes na análise dos fatores do crescimento económico, assumindo várias expressões, particularmente no plano da macroeconomia e da política económica, com aplicação generalizada no período do pós-guerra.

Tiveram, inclusive, impacto em Portugal, nas décadas de 1960-70, através da geração de economistas que promoveu uma verdadeira revolução do ensino da economia – com epicentro no antigo ISCEF, atual ISEG – e que esteve na base dos chamados Planos de Fomento.

E, curiosamente, tiveram influência, já neste século, no desenho do Plano Tecnológico de 2005, que contou com a participação de Acemoglu, Aghion e, ainda, de Dani Rodrik, numa conferência em Lisboa. Mais recentemente, estas abordagens encontraram novas condições para se afirmarem e desenvolverem, no plano teórico e nas suas aplicações práticas.

Sobretudo, confrontaram-se com a tendência prolongada de estagnação nas economias avançadas, favorável às ideias de promoção do crescimento, de recuperação da política industrial e da reintrodução do vetor estratégico de médio e longo prazo.

É tempo de ultrapassar preconceitos ideológicos e políticos e de avançar para uma verdadeira discussão sobre como recuperar uma dinâmica de crescimento económico sustentado e de melhoria do bem-estar social. E, sem dúvida, que os contributos dos recentes nobelizados em economia constituem uma referência de que não podemos prescindir.

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