O Nobel da Economia e as instituições de Bretton Woods

Por: António Mendonça

Bastonário

A justificação apresentada pela Academia de Ciências, para a atribuição do Nobel da economia a Acemoglu, Johnson e Robinson, fundamenta-se no contributo que, em conjunto, deram para a compreensão de como as instituições se formam e desenvolvem e neste processo afetam a produção de prosperidade e a desigualdade económica entre países. Um trabalho que tem como referência seminal o artigo de 2021, “The Colonial Origins of Comparative Development: An Empirical Investigation”, The American Economic Review, Vol. 91, nº 5.

Coincidentemente, ou talvez não, em 2024 comemoram-se os 80 anos do início da Conferência de Bretton Woods (1 de julho de 1944) que criou o sistema de instituições monetárias e financeiras (FMI e Banco Mundial) que haveriam de suportar a reconstrução da economia mundial no período do pós-segunda guerra mundial.

O FMI e o Banco Mundial decidiram, neste contexto, criar um grupo de reflexão, conjunto, com o objetivo de explorar a evolução da economia global num horizonte de 20-30 anos e, principalmente, o papel que o Banco e o Fundo poderão desempenhar.

Sem dúvida, um objetivo nobre que deverá ser acompanhado com todo o interesse. E as análises dos recentes nobelizados não poderão deixar de constituir uma referência para a discussão das reformas que as velhas instituições deverão incorporar por forma a estarem à altura dos novos desafios que já se colocam e perspetivam para a economia global.

Bretton Woods, constituiu, sem dúvida um salto imenso no plano das organizações de cooperação económica internacional e permitiu reconstruir e dinamizar a economia internacional. Foi um período em que as fortes taxas de crescimento do PIB, permitiram acomodar a elevação dos rendimentos e a formação de largas camadas médias que sustentaram a democracia e a exportação do chamado modelo ocidental para as diferentes partes do globo, muitas delas em processos de afirmação de independência das antigas potências colonizadoras.

Mas os efeitos foram-se esgotando, sobretudo a partir do final dos anos 60, onde a hegemonia do dólar entrou em crise, precisamente em resultado da incapacidade de se proceder aos ajustamentos necessários. Em agosto de 1971, o Presidente Nixon suspendia a convertibilidade-ouro do dólar, pedra base do sistema monetário internacional, pondo unilateralmente fim ao sistema de Bretton Woods e conduzindo à primeira grande crise económica internacional do pós-guerra, detonada pela decisão da OPEP de subida dos preços do petróleo, na sequência da guerra do Yom Kypur de 1973. Uma crise cujos efeitos não se deixaram de prolongar até aos nossos dias.

Sem dúvida que as instituições são importantes e moldam o curso das dimensões em que atuam. Mas é importante não esquecer que de dinamizadoras se podem transformar em bloqueadoras do progresso e é necessário um permanente esforço de ajustamento à evolução dos novos contextos e necessidades.

Em última análise, a qualidade das instituições depende da qualidade das pessoas que as enformam.

 

In Jornal Económico – 25 de outubro de 2024

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