O Líder e o Argumento de Vendedor

Por: René Cordeiro

Membro Efetivo nº56

Regresso ao tema da liderança por virtude do que ouço e leio frequentemente em diversas fontes, apresentadas como especialistas, sobre o seu conceito: fórmulas relacionadas com o comportamento – amigável, comunicativo, simpático…, carismático (certamente não no sentido de “imbuído pela graça de Deus”),… membro da equipa,…

Creio que esta identificação baseada em características de comportamento está em linha com as técnicas das ciências comportamentais que regem o mundo digital em que hoje estamos submersos – sejam as redes sociais ou os pontos de venda de diverso tipo – procurando produzir os efeitos inebriantes do “jogo de casino”. Esses efeitos são desejados, porque objectivados, pelos respectivos promotores e emissores, e explicarão talvez a insistência do discurso definidor da liderança nessa perspectiva. Daí a referência no título ao “argumento de vendedor”.

Todavia, esta insistência é perigosa na medida em que nos induz a esquecer o pressuposto em que me baseio para o contradizer: o papel do líder, porque visa o longo prazo, consiste em prosseguir um objectivo, conduzindo uma organização, alocando recursos – Humanos e materiais -, dirigindo aqueles, assegurando que estes são eficientemente utilizados. E este objectivo implica a responsabilidade de produzir resultados dele decorrentes e com ele coerentes que, por sua vez, arrastam a autoridade necessária à efectivação do pressuposto. De outro modo, o valor económico da sua acção não se baseia na atractividade de uma qualquer mensagem publicitária ou propagandística de qualidades certamente desejáveis na relação social, porque suavizam os comportamentos, mas no sucesso da prossecução do objectivo.

É por isto que a assunção daquela responsabilidade determina a obediência a critérios imperativos que subalternizam os desejáveis.

Partindo do referido pressuposto recordarei, primeiro, os atributos que Sócrates enunciava como essenciais ao (bom) governo da cidade e, depois, os critérios que o nosso conceito de líder considera.

1. Os quatro atributos do governo da cidade

Sábio. Que, numa organização, consiste em (saber) ouvir, o que conduz à ponderação necessária ao segundo atributo;

Corajoso. Para promover a tomada das decisões que se impõem;

Temperante, para acomodar algumas atitudes ou comportamentos que resistam àquelas decisões;

Justo, para assegurar a equidade dos efeitos das decisões tomadas e executadas.

2. Porque o líder busca, como referido, o produto de longo prazo, para o que é imperativo a agregação de valor, o nosso conceito consiste na detenção de quatro capacidades críticas de pensamento estratégico e da consequente acção:

i) O domínio do pensamento estratégico com vista à
formulação, implementação e execução de uma estratégia global que conduza as actividades, os negócios, da organização, que pressupõe a clareza do objectivo e a firmeza na sua prossecução, que optimize a utilização das tecnologias de informação disponíveis em ordem ao controlo pronto e sistemático das operações e ao domínio do modus operandi, para influenciar as regras do jogo;

ii) A percepção clara de que a inovação é um processo, sendo assim necessária a construção das aptidões processuais para obter o domínio da inovação a fazer como contributo à realização do objectivo que preside àquela estratégia global;

iii) O domínio das aptidões processuais de formação de decisão — particularmente as relacionadas com a resolução de problemas, actuais ou potenciais, e a análise de decisão, fortemente contributivas para os assuntos operacionais;

iv) A promoção de aptidões processuais para melhorar continuamente os processos operacionais, particularmente aqueles que são críticos para a estratégia global.

As quatro capacidades referidas para a prossecução do objectivo, levarão naturalmente o líder a,
a) Promover a cultura da preparação prévia como condição do sentido de urgência que o ambiente concorrencial lhe impõe;

b) Promover a cultura da responsabilidade e da exigência no cumprimento das responsabilidades atribuídas aos diversos níveis da organização com a consequente e efectiva prestação de contas em tempo útil;

c) Promover a cultura da avaliação contínua do progresso das actividades da organização, com sistemático acompanhamento e controlo da produção de resultados em ordem à prossecução do objectivo estabelecido.

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