Por: René Cordeiro
Membro Efetivo nº 56
1. Em página de entrada de livro publicado em 2021 escrevi “Quando o que se diz não vale, que valha o modo. Se o modo não vale, não vale a pena”.
Pensava eu que o que implicitamente queria transmitir como conclusão do pensamento era perceptível. Mas não: amigo dizia-me uns tempos depois que, afinal, o modo também era importante. Tive, pois, de o esclarecer: se o modo vale, porque o que se diz não vale, então também não deve valer – porque é espectáculo, aparência certamente por muitos apreciada, como a moda demonstra, mas é improdutivo.
2. Em artigo de Dezembro passado argumentei que, das três situações em que Bismark afirmou que o Homem sempre mente, numa não deveria fazê-lo: «Antes das Eleições». Porque, “Mentir antes das eleições é mentir a quem queremos que nos eleja – o eleitor –, para o representar, o conduzir, para o servir, dizendo-lhe que faremos o que sabemos não irmos fazer. Tal significa levar o eleitor a permitir-se ser enganado. Logo, o eleitor deve prevenir-se!”.
Recordei, então, a propósito da regra da boa gestão, do bom governo, uma passagem de uma citação de Drucker que fiz no livro acima referido: “A Gestão por Objectivos diz a um gestor/governante o que deve fazer. A forma de organização, da sua responsabilidade, capacita-o para o efeito. Mas é o espirito da organização que determina se o fará. É o espirito que motiva, que convoca as reservas humanas de dedicação e esforço, que decide se ele dará o seu melhor ou se fará apenas o necessário para ir andando”.
3. Em artigo seguinte, de Janeiro último, desenvolvi aspectos sobre Economia & Desenvolvimento, argumentando e salientando temas da nossa vida colectiva que prejudica o desenvolvimento da economia e, consequentemente, o desenvolvimento social. Apresentando alguns contributos democráticos como condições necessárias à prossecução do objectivo de desenvolvimento que então formulei. Recordando que a precisão, a clareza e a correcção do conceito, é determinante quando se formulam proposições para o debate público.
4. É, assim, que pretendo aqui repetir uma conclusão: não há desenvolvimento social sem prévio desenvolvimento económico produtivo. Porque o custo antecede sempre o proveito. Por isso qualquer pequeno empresário só cresce, adquirindo recursos novos, quando entende que a sua capacidade de produção já não é bastante para a carga que entende ser possível acomodar, produzindo mais. Por isso, também, as empresas de maior dimensão abordam (devem abordar) a inovação, não de modo especulativo, mas como condição (quando necessária) para acrescentar a sua capacidade.
Pelo que deveria existir iniciativa de acção pedagógica junto às empresas, não do Estado, mas da actividade associativa empresarial, seja das confederações de empregadores, seja das associações sectoriais. Com um objectivo: que as empresas deixem de se preocupar tanto com os indicadores financeiros em moda, sempre ex post, ocupando-se preferencialmente com o único indicador económico ex ante (que conheço e que pratiquei) que possibilita a prossecução do desenvolvimento da sua actividade: o VAB. Porque planear o desenvolvimento implica planear no âmbito de um horizonte temporal futuro, trabalhando na acomodação dos seus cinco componentes com base na probabilidade de prossecução do desenvolvimento almejado e que o plano, pelo controlo – sobre os elementos devidamente considerados para prossecução de objectivos quantificados – possibilita.
Porque, recordo, o desenvolvimento económico não é um fim, mas o meio que possibilita a sustentação do desenvolvimento social com a distribuição dos frutos da produção e a repartição dos rendimentos de acordo com o princípio da equidade definida por critérios de contributo efectivo e não de carácter ideológico de circunstância retórica fácil.
É por isso que dar prioridade ao que é importante – o futuro – não impede que se trate, com critérios claros, conhecidos e explicitados o que é urgente – o presente, que condiciona aquele: a solução de situações passadas que, não respeitando o princípio da equidade, produziram resultados nefastos nos âmbitos da educação, da saúde, da justiça, e flagrantes desigualdades em situações idênticas.