
Por: João Grazina Santos
Membro Efetivo nº16897
A contemporaneidade é definida por uma transformação estrutural profunda: a transição de uma economia material, assente na produção industrial e em recursos físicos, para uma economia informacional e global, alicerçada na criação, processamento e distribuição de informação. Este novo paradigma, catalisado pela revolução digital e pelas tecnologias de comunicação, reconfigurou as bases da competitividade internacional, desafiando os modelos económicos tradicionais e impondo novas exigências às nações. Para uma economia de dimensão média e aberta como a portuguesa, compreender e adaptar-se a este novo contexto não é uma opção, mas um imperativo estratégico para a prosperidade futura.
A economia informacional caracteriza-se pela primazia do conhecimento e da informação como fatores de produção críticos, superando em importância os inputs clássicos. Neste ecossistema, o valor é gerado através de redes globais que operam em tempo real, onde dados são o novo petróleo e a inovação é a principal moeda de troca. Setores como o financeiro (fintech), a logística, os media e até a manufactura (através da Indústria 4.0) dependem intrinsecamente de fluxos informacionais eficientes. A globalização, por sua vez, é simultaneamente causa e consequência deste fenómeno, ao permitir que o capital intelectual e os serviços de alto valor acrescentado transcendam fronteiras com uma fluidez sem precedentes.
O impacto desta nova realidade na economia portuguesa é multifacetado, apresentando um conjunto singular de oportunidades e desafios.
Portugal posicionou-se de forma notável como um polo de atração de talento e investimento no sector tecnológico. A combinação de um ecossistema de startups vibrante, um custo de vida competitivo face a outros países europeus e uma mão-de-obra qualificada (com forte investimento em cursos superiores em STEM – Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) tem sido crucial. A proliferação de hubs tecnológicos em Lisboa e no Porto, a realização da Web Summit e a atração de centros de excelência de multinacionais são testamentos deste sucesso. Este dinamismo gera emprego de alta qualificação, fixa jovens talentos e diversifica as exportações para serviços intelectuais complexos, reduzindo a histórica dependência do turismo e de commodities.
O turismo, setor vital da economia, também se transforma na era informacional. A digitalização da promoção, a utilização de big data para personalizar experiências e a gestão inteligente de destinos através de plataformas são hoje indispensáveis para competir no mercado global. Da mesma forma, o tecido empresarial tradicional beneficia da adoção de ferramentas digitais para otimizar cadeias de abastecimento, aceder a novos mercados através do comércio eletrónico e melhorar a produtividade.
Contudo, a transição não é isenta de obstáculos. O risco de uma nova forma de assimetria é palpável: a divisão digital. Enquanto as grandes empresas e startups escalam rapidamente, uma parte significativa do tecido empresarial português, composto por PMEs e microempresas, enfrenta dificuldades na adoção de tecnologias digitais avançadas. Esta lacuna pode ampliar disparidades de competitividade, criando uma economia a duas velocidades.
A dependência de infraestruturas digitais e plataformas globais também introduz vulnerabilidades. Questões de cibersegurança, soberania de dados e a flutuação dos mercados globais de tecnologia tornam-se riscos sistémicos a gerir. Além disso, a economia informacional tende a premiar os “vencedores levam tudo”, concentrando renda e poder de mercado em poucas gigantes tecnológicas, o que pode limitar o espaço de manobra para os players nacionais.
O impacto da economia informacional global em Portugal é, portanto, profundamente transformador. A nação não pode resistir à maré digital, mas pode e deve navegá-la com inteligência estratégica. O caminho futuro dependerá da capacidade de investir continuamente no capital humano, na modernização digital do tecido produtivo tradicional e na construção de infraestruturas resilientes. Políticas públicas focadas na inclusão digital, no fomento da I&D em parceria com o sector privado e na atração de investimento direto estrangeiro de alto valor tecnológico serão determinantes. Portugal demonstrou ter potencial para ser um ator relevante neste novo tabuleiro global. O desafio reside em converter esse potencial em vantagens competitivas sustentadas, garantindo que a prosperidade gerada pela informação é partilhada de forma ampla e equitativa por toda a sociedade.