A conjuntura e a estrutura da economia portuguesa

Por: Luís Mira Amaral

No pós-Troika seria expectável que crescêssemos a ritmos expressivos superiores aos da zona euro. Tal não aconteceu, excepto no ano de 2022 em que o efeito base ligado à queda do PIB durante a pandemia, o boom turístico e o comportamento das exportações explicam tal.

Esse crescimento em 2022 bem como a subida das exportações para 50% do PIB levaram alguns a concluir que estaríamos perante uma mudança estrutural sem necessidade das reformas destinadas a aumentar o PIB potencial. Não penso assim e julgo que persistem importantes questões estruturais que continuarão a condicionar os nossos níveis de criação de riqueza. Sem ser exaustivo, citarei:
Evolução da produtividade que apenas cresceu 4.1% entre 2015 e 2022; degradação da produtividade relativa que caiu de 78,4% da média da UE em 2015 para 74.8% em 2022; défices de capital, tendo o capital por trabalhador diminuído de 9.8%, passando de 62.7% da média da UE para 50%. Tal é responsável pelo fraco aumento da produtividade e é travão ao aumento dos salários; níveis insuficientes de investimento público e privado, em que o clima de negócios não incentiva o investimento privado nem a captação de IDE, e em que a partir de 2015 o investimento público foi travado para se controlar o défice público; dificuldades de retenção do capital humano, levando à saída dos jovens mais qualificados e à entrada de indiferenciados, o que leva à degradação do capital humano por trabalhador e consequente travão ao aumento da produtividade.

Uma resposta

  1. Comentário muito bom, lúcido e sintético, a questão estrutural está aqui;
    “a partir de 2015 o investimento público foi travado para se controlar o défice público;”

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